terça-feira, 25 de março de 2014

A Presa

      Nítido. Em meus olhos a presa estava nítida. Somente a presa. De resto, tudo era turvo, invisível, claro demais, escuro demais. Eu a queria, a presa. Queria-a em minha mãos, em minha boca, em minha posse! Eu estava louco pela presa, era uma fome que queria sentir, uma sede que não queria ser bebida, uma vontade insaciável de te-la em mim. Fome. Estava faminto. Eu não conseguia parar de olhar para a presa, já ela, nem me notava. Isso é bom? De fato seria fundamental uma presa displicente para o sucesso na caçada, porém, minha vontade de ter aquela presa estava além do âmbito da caçada, não seria perfeito se fosse fácil pegá-la.
      Ahhhh!! Coma a quero, como quero a presa. Minha sede de predador é tão confortável, mas ainda assim eu quero saciá-la.
A presa estava imóvel, tão fácil, minha consciência dizia para não pegá-la, mas havia algo mais forte que eu, uma besta que reside até no coração do mais puro dos seres, em mim, agora estava solta. Esqueça toda a racionalidade. Meus sentidos estavam a flor da pele, o instinto tomou o controle das minhas ações. 
      No deserto. A presa e eu estávamos no deserto. Não havia nada visível em volta, só uma grande amplidão. Como eu preciso dessa presa que me corrompe, me corrói, me perverte. Quero-a dentro de mim, ao meu redor, envolta no meu semblante, ou nos meus braços.
Que fome insana.
      Estávamos em um apartamento alugado. Um apartamento deserto. Pilhas de livros para todos os lados, um rádio de pilha, eu e a presa. Presa. Presença. Aquele apartamento estava repleto de ausências.
      Eu queria saber mais sobre a presa, sobre MINHA presa, mas ela estava calada, imóvel, e virada para o outro lado. Que tristeza! Por que tinha que ser assim? Eu queria controlar a presa. Queria alcançá-la.
Eu não aguentava de sede, de fome, de vontade, de falta.

Avancei.

      A cada passo que eu dava em sua direção, eu me afastava dois. Que desespero!
Ela se curvou e pude ver sua face.
Agora, era a Presa.


3 comentários:

  1. Legal Daniel,
    a ideia é bem boa. Sei que para o trocadilho final dar certo você precisa muito repetir a palavra presa, mas fiquei pensando que vale a pensa procurar alguns sinônimos e inseri-los ao longo da crônica, senão fica excessivamente repetitiva.
    atenção:
    fácil de pegar, não. fácil pegar.
    sentidos à flor da pele, com crase.
    de resto, bem legal e interessante o seu texto. bons ambientes criados.
    Lu

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  2. Daniel, meus parabéns pelo texto. Continue com esse seu interesse por Literatura, e não deixe nunca de escrever.
    Abraços,
    Paulo

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